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22 de jan. de 2019

Universos individuais

Queria eu poder explorar
Seu cosmo particular
Percorrer através das suas órbitas
Deixar minhas pegadas na sua superfície

Queria eu poder dividir minha densidade com você
Misturar nossos universos individuais
E formar uma explosão

Dela nasceriam novas conexões
Coisas sem razões
E um punhado de vida

Queria eu poder transformar
Nossas alegrias em satélites
Pra ficarem ali, girando
Em torno dessa energia expandida

Queria eu poder eliminar os buracos negros
Que em ti sugam a energia poderosa que guarda no perto
E te salvar dos buracos de minhoca que não levam a lugar nenhum

Queria eu poder
Queria
Eu

6 de mar. de 2018

O vento entra pela janela totalmente aberta.
É doce o toque. Mas profundo.
Lá fora ele agita as plantas e as flores do jardim de minha mãe.
Será que elas sentem o mesmo que eu?
O sol faz sombras no muro alto e desenha a silhueta de uma flor branca, quase morta.
Estaria morta por fora ou por dentro?
O vento volta.
É doce o toque. Mas profundo. E gelado.
Sinto as minhas costas doerem um pouco por causa da cadeira velha e dura. Eu lembro que preciso comprar uma cadeira nova.
O vento volta e é doce o toque. Profundo. E eu estou chorando.
As cores estão mais alegres hoje. Profundas.
E eu feliz.

4 de mar. de 2018

Desabafo e muitos pontos

Existe um antes e depois pra mim. Um antes e depois peculiar: o antes de você morrer e o depois de você ter ido. O antes consiste em um tempo que eu já não sei se eu me lembro mais. Me parece tão turvo e tudo soa como se nunca tivesse acontecido. Parece-me que eu dormi um sono longo, de 2 anos e acordei do sonho que era nossa vida a dois. Eu achei que estava tudo indo bem antes de você morrer, mas agora, no tempo depois de você ter ido, eu vejo que havia muita coisa que deveria ter sido feita. Que deveria ter sido dita. Talvez. Eu me sinto culpada, basicamente. Eu estou sem respostas e também sem as perguntas. Embora eu saiba que a culpa não é minha eu a sinto. Sinto que deveria ter te salvado. De alguma maneira. Não sei.

Essa divisão de tempo divide também muita coisa dentro de mim. Metade de mim quer viver mais do que nunca, porque nesse tempo do depois de você ter ido só me restou isso mesmo, viver. Mas a outra metade está presa no tempo antes de você morrer e, consequentemente, lá no tal dos sete palmos. Viver com só a metade de si é muito difícil porque não existe muito equilíbrio. E quando parece que vou conseguir dar mais um passo eu acabo caindo. Cair dói e prejudica a experiência do andar. E eu preciso seguir. Você sabe disso.

A questão é que de todas as coisas que eu estudei, jamais tive sequer uma aula sobre como viver dividida entre dois tipos de tempo. Não há textos, tutoriais, vídeos ou profissionais que me expliquem como sobreviver com esse desequilíbrio temporal. Eu frequento médicos e os confins da minha mente para tentar desbloquear alguma área que me dê o poder da estabilidade, mas por enquanto só achei umas coisas começando a mofar do tempo antes de você morrer. Eu PRECISO seguir. Você e eu sabemos disso.

Desde o dia que entrou em vigor o tempo depois de você ter ido eu penso e sinto esses dois tipos de épocas da minha vida em vários momentos. Naquela manhã eu entrei no ano 0. E agora estou construindo uma nova sociedade dentro de mim. Dentro daquela metade que sobrou, no caso. Há muitos conflitos, mas dizem que do caos é que se cria a harmonia.

Eu procuro consertar o desequilíbrio com arte, estudo e conversas. Estou mais aberta com as pessoas e ressignificando os meus modos de contato. Ando lendo e até comecei a assistir coisas. Uma pessoa querida me fez sentir vontade e outra pessoa querida me facilitou acessos. (Tecnologia nunca foi meu forte). Quero dar mais abraços e atenção a quem gosto, embora eu seja ainda muito ruim nisso. Tudo porque estou bem mais sensível. Eu vejo beleza numas coisas estranhas. Mas também sinto todas as negatividades do mundo. Estar só com a metade alterou meus níveis de empatia.

Creio que amadureci uns 100 anos dos tempos antigos pra cá. Amadurecimento que eu precisava. Mas do fundo do meu coração eu não queria que tivesse sido nessas circunstâncias. Queria que tivesse sido num tempo só. Fluido. Gradativo. 2,3,4,5. Não 0. O que eu faço com 0 coisas? Com 0 momentos? Trouxe várias coisas pra esta casa, mas não me são nada. Vou precisar desenvolver habilidades de arquiteta existencial para dar conta de construir tudo de novo e mesmo assim, serão construções do ano depois de você ter ido.

Mas eu preciso seguir. E eu sei disso. A outra metade sabe disso. Você sabe disso. Os amigos e parentes sabem disso. Só o tempo que não. Por isso além de viver só com uma parte, estarei sempre contando meu tempo como antes de você morrer e depois de você ter ido.


Edit: Eu estou seguindo. Eu sei disso. E me sinto melhor.

21 de fev. de 2018

Sobre procrastinação.

A procrastinação é um potinho de plástico no microondas esperando você apertar o botão de ligar.
No pote, há um punhado de arroz, pedaços de carne salgados - porque você errou a mão quando tentava colocar o sal e mexer no celular ao mesmo tempo - e um pouco de feijão, porque disseram que tem ferro e você se convenceu de que precisa dele quando na semana passada se sentiu fraco e lembrou do tal ferro do feijão. Pois então, você bota o pote bem no meio do microondas com delicadeza e aperta aquele botão milagroso, o botão que é quase uma mãe de santo dos cartazes de rua: "trago sua comida quentinha de volta em 30 segundos". E depois dos 30 segundos lá está o seu potinho com uma fumacinha saindo copiosamente que simula comida feita na hora. Mas assim que você raciocina sobre essa fumacinha falsa, você começa a realmente perceber que a procrastinação está neste pote de plástico. E pior!, ela faz um par infalível com o microondas. Você grita "como podem fazer isso comigo!?" quando recebe uma pancada num lado da cabeça - que muitos chamam de epifania - e aí vê que o verdadeiro par da procrastinação é você mesmo. Ela é o pote, você é você. Ela é ela, você é o microondas. Tudo se mistura e você fica meio confuso. Sua revelação é reforçada quando você descobre que o pote libera uma toxina quando você o esquenta, o que parece muito quando você dá o braço a torcer para a procrastinação e ela libera uma coisa - agora comprovadamente sabido que é uma toxina - que te faz ficar improdutivo, preguiçoso, quase fazendo a sua existência beirar à inutilidade. E então você decide acabar com toda essa palhaçada e desliga o microondas da tomada. Neste momento você está decidido a romper este laço com a procrastinação e com o pote e com aquela comida. E você resolve que fará um novo arroz, uma nova carne - com pouco sal - e muito mais feijão, por causa do ferro. E só quando você está com uma das panelas nas mãos em posição vencedora de revolução pessoal é que você percebe que está atrasado e seu estômago acabou de roncar. Você olha pro pote e o pote olha pra você e quando nota, está mexendo no celular enquanto come a comida do pote cheia de toxina e fumaça falsa. E você mente para si mesmo de que a procrastinação não tem lá um gosto ruim. Só é um pouco salgada.

12 de dez. de 2012

Simples assim


    Que irresponsabilidade nossa deixar-nos levar por um sentimento tão estranho. Não sabemos dizer se é paixão, tampouco amor. Talvez seja apenas desejo misturado à carência e juventude.

    Estive reparando que, em meio as nossas conversas aleatórias regadas de mel e limão, eu me encanto com os seus olhos cor de terra. Volte e meia sai faíscas. Às vezes, quando você segura as minhas mãos ou acaricia minha pele, sinto arrepios profundos. Nada grave, eu acho.

    Não sei se já parou para pensar na possível existência de um “nós” ao invés de somente “eu e você”. Se sim, o que achou? Será que nossas conversas e olhares combinariam e nossa frequência seria a mesma?

    Bem, querido, enquanto não nos decidimos quanto a ser par ou continuar ímpar, o jeito é ficar na dúvida dos beijos e abraços sutis. Mas seja qual for nossa decisão, sei que vai ficar uma parte tua em mim, e espero que em você eu permaneça pela metade. Só para lembrar que coisas boas acontecem em algum momento da vida.

5 de nov. de 2012

Anagrama

Anagrama
Ana                                                                                                                     grama
Ana                                                         ama                                                     grama

Anagrama